jueves, 1 de diciembre de 2011

A VOLTA DE UM ANACRONISMO


Depois de uma série de decisões judiciais contra e a favor, a questão da obrigatoriedade ou não do diploma de jornalismo para o exercício desta profissão virou um tema político. Na quarta-feira o Senado aprovou em primeiro turno uma PEC (Projeto de Emenda Constitucional) que pretende fazer da faculdade de jornalismo, de novo, condição sine quo non para quem queira trabalhar no setor da informação midiática.

A última decisão do Supremo Tribunal de Federal, em 2009, desvinculou a atividade periodistica ao título universitário desta área. Ou seja, repusera o Brasil ao lado do resto do mundo. Em nenhum país existe a aberração que representa a exigência do diploma. Entretanto, os parlamentares brasileiros estão querendo, mais uma vez, fazer do Brasil a grande exceção em relação ao tema.

O diploma de jornalista obrigatório mais uma vez será, sem dúvida, um motivo de muita alegria para a maior parte desta classe - bitolada num corporativismo infantil – regozijando, principalmente, aqueles que adoram jactarem-se de que são “jornalistas por formação”.

A faculdade de jornalismo não pode ser obrigatória porque vai contra o próprio sentido da profissão. O jornalismo é, passadas algumas regras básicas de regra e de estilo, uma atividade livre.

Desde que saibam os fundamentos elementares do jornalismo (fácil para quem tem contato regular com jornais e revistas) podem e devem fazer parte dele gente vinda de diversas áreas, principalmente das ciências humanas e sociais. Seguramente alguém formado em economia ou direito, por exemplo, e que tenha grande interesse pela atualidade (o que não é tão comum, pasmem, entre muitos “jornalistas por formação”) terá muito mais subsídios para ser um bom jornalista que alguém que “apenas” é graduado em jornalismo.

A faculdade de jornalismo, mesmo a das grandes universidades do Brasil, é das mais vagas e de conteúdo mais pobre. Eu sou formado em jornalismo. Até sinto vergonha quando digo que tenho título universitário, pois faço ideia do esforço e dedicação que alguém deve ter para graduar-se na maior parte dos bacharelados. Na faculdade de jornalismo não é necessário, praticamente, estudar. Quase todas as avaliações são feitas por trabalhos, apresentações e nos laboratórios de rádio, TV e jornalismo impresso. Não há nada de substancial em termos de aprendizagem intelectual nos quatro anos que dura o curso.

Como muito, a faculdade de jornalismo só tem utilidade para quem entra no curso alienado e acaba ganhando consciência que é importante ler e informar-se – porém, quem precisa deste empurrão para interessar-se pela atualidade muito dificilmente será uma pessoa capacitada para o jornalismo.

A maioria dos cursos universiários são essenciais para o trabalho na respectiva área. Os conhecimentos técnicos adquiridos nas faculdades como a de medicina, de direito, de engenharia e de arquitetura, por exemplo, são essenciais para os que laborarão nestes ramos. No jornalismo não – ainda mais pelo tão fraco teor acadêmico do curso.

Em resumo, para quem tem vocação para o jornalismo a faculdade não é necessário. Para quem não tem vocação a faculdade de pouco serve.

A anomalia que é a obrigatoriedade do diploma de jornalista está regressando, pois é improvável que a PEC não seja aprovada em futuras votações do Senado e da Câmara de Deputados. Uma lástima, que significaria uma derrota da liberdade e uma derrota do bom senso.

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