jueves, 12 de abril de 2012

PROIBIÇÃO SALUTAR


Sem dúvida, uma das grandes evoluções que grande parte do mundo teve nos últimos anos foi na esfera do combate ao fumo passivo. Hoje são raros os países, ao menos do mundo ocidental, que não contam com leis que restringem ou interditam o fumo em locais fechados de circulação pública, evitando que os não fumadores absorvam “fumaça alheia”.

Em Portugal, de acordo com decisão do Ministério da Saúde, pela primeira vez, as medidas contra o fumo passivo vão atingir, também, um ambiente totalmente privado, os automóveis particulares, se estes estiverem com crianças.

Ao menos nas redes sociais, o anúncio da proibição do tabaco em carrros com miúdos provocou alguma reação negativa. A alegação era de que o governo estava a invadir a propriedade privada ou que estava a ter uma sanha proibicionista no tema. Entretanto, a proibição, como todas as ligadas ao tabaco, não tem o objetivo de talhar a liberdade de ninguém, e sim de proteger a saúde de quem possa ser atacado por algo tão maléfico como é o tabaco.

Ao contrário dos adultos não fumadores, que podem escolher entre estar ou não num carro com gente a fumar, as crianças não teriam tão clara está opção e dependendo da idade, sequer teriam a consciência do nefasto que é o tabaco.

A interdição do tabaco em carros com crianças também pode servir como efeito didático. Alguns pais fumadores poderão ser ainda mais tocados pela necessidade de fumar longe dos filhos em suas residências, únicos locais onde seria difícil a proteção das crianças da parte do Estado.

É regozijante ver a importância que o poder público português está a dar ao fumo passivo nos últimos anos. Durante muito tempo os não fumadores foram negligenciados – outrora até mesmo em aviões, transportes públicos e, pasmem, em programas de televisão era permitido fumar – mas hoje, para o bem da sua saúde, têm as leis a seu favor.

miércoles, 11 de abril de 2012

QUANDO O PRECONCEITO SAI DO ARMÁRIO


Está a causar certo furor na sociedade portuguesa o último artigo que o diretor do Sol, José António Saraiva, escreveu para o semanário. De inclinação claramente homofóbica, embora com alguns matizes para dar um toque de tolerância, o texto demonstra o grande reacionarismo do jornalista.

Embora Saraiva admita que haja homossexuais que nasçam homossexuais, não tem dúvida em afirmar que há muitos que se tornam homossexuais “por influência de amigos e por pressão do meio em que se movem”. Até “culpa” as figuras mediáticas pelo facto de estar havendo um suposto crescimento no número de homossexuais: “O assumir da homossexualidade por parte de figuras públicas acaba forçosamente por ter um efeito multiplicador, pois funciona como propaganda”.

Saraiva diz que o homossexualismo é hoje uma forma de sublinhar o espírito contestatário por parte de quem assume ser homossexual: “Para alguns jovens, a homossexualidade surge como uma forma de mostrar a sua ‘diferença’, de manifestar a sua recusa de uma sociedade convencional”

Para Saraiva um jovem declarar-se homossexual hoje dia é semelhante a um jovem que se declarava de esquerda no passado: “Se antes os jovens desafiavam os pais tornando-se ‘de esquerda’, hoje desafiam-nos recusando a ‘família burguesa’ e mostrando-lhes que há outras formas de relacionamento e até de constituir família”.

Por fim, Saraiva julga que o homossexualismo é uma forma de “niilismo”, em que há “uma ausência de utilidade e uma recusa do futuro”. Tudo pelo ‘facto’ de nele estar embutida a “rejeição da relação homem-mulher”, que, consequentemente, segundo Saraiva, leva à rejeição da “reprodução da espécie”.

O homofobismo de Saraiva, na verdade, é um manifesto da mais nefasta forma do politicamente incorreto, dos que não têm vergonha de assumir um ataque (no caso de Saraiva ‘apenas’ léxico) a certas coletividades.

A dificuldade de conviver com o diferente é um desafio a todas as sociedades que querem ser, de facto, democráticas. Não é tão difícil, ao menos no caso de aceitar-se os homossexuais. Bastar imaginar que a existência de práticas diferentes da maioritária, como as relações homossexuais, em absoluto, são impostas a quem não queira exercê-las. Se há mesmo um aumento da cifra de homossexuais não é porque as pessoas são obrigadas a serem, como é óbvio, ou porque virou uma ‘moda’, e sim porque, simplesmente, o preconceito tem vindo a diminuir, principalmente nas grandes cidades, e ser homossexual não é visto como algo tão aberrante como outrora.

Felizmente, posições retrógadas como a de Saraiva são cada vez mais pontuais em Portugal, que caminha - a despeito dum certo reacionarismo no plano dos direitos civis instalado em determinados setores – rumo a uma sociedade tolerante e respeitadora dos direitos dos homossexuais.

O que fica, pelas palavras de Saraiva, é uma grande mácula para o periódico que ele dirige. Já considerada uma publicação dotada de certo histerismo pelo teor dalgumas de suas reportagens, o Sol apronfunda mais a sua má imagem no plano ético.