viernes, 21 de septiembre de 2018

SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS ENTRE 1989 E 2018

Muitos têm comparado as eleições presidenciais deste ano com as de 1989, as primeiras realizadas no Brasil para a escolha direta do presidente desde o golpe militar de 1964.

De fato, são pleitos que possuem semelhanças em vários aspectos. Entretanto, também há diferenças significativas.

Neste texto pretendo traçar os pontos de comum (ainda que sem ter como saber do principal, quem será o vencedor da eleição deste ano) e de diferente entre ambos escrutínios.

Semelhanças

Pulverização:  Em ambas eleições o quadro de candidaturas estava muito fragmentado. De momento, são as duas presidenciáveis com maior número de postulantes ao Palácio do Planalto. Embora a de 1989 tenha tido muito mais. 22 contra 13 da deste ano. Porém, mais do que o número de candidatos em si, o que se deve destacar é o número de candidatos competitivos que entraram na campanha. Em 1989 quatro alimentaram chances reais de ir ao 2º turno durante boa parte da campanha. Fernando Collor (PRN), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Leonel Brizola (PT) e Mário Covas (PSDB). Ademais de ter havido outras candidaturas de peso histórico, como a de Paulo Maluf (PDS, hoje PP) e Ulysses Guimarães (PMDB, hoje MDB). A de 2018 até a supera em candidaturas competitivas. Entraram na campanha cinco postulantes no grupo de favoritos. Jair Bolsonaro (PSL), Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB) e Fernando Haddad (PT).

Líder, de partido nanico: Não sabemos se o resultado final coincidirá e se o eleito em 2018 será, como em 1989, dum partido nanico, já que o partido do vencedor, Collor, era pouco relevante. Mas o fato é que quem lidera as intenções de voto, Bolsonaro, pertence a um igualmente com pouca representação no Brasil.

Colocação dos candidatos: Se o 1º turno terminar de acordo às últimas pesquisas do Datafolha e do Ibope, a classificação dos candidatos será muito parecida a de 1989 em relação aos quatro primeiros postos tendo em conta os partidos dos candidatos. No 1º lugar, Bolsonaro e Collor. Ambos de partidos nanicos. No 2º, Haddad e Lula, do PT. No 3º, Gomes e Brizola, do PDT. No 4º, Alckmin e Covas, do PSDB.

Disputa acirrada entre PT e PDT: Em 1989 apenas 0,77 pontos percentuais separaram Brizola de Lula no 1° turno (17,18% dos votos válidos para Lula e 16,51% para Brizola). Neste ano, as candidaturas do PDT, com Gomes, e do PT, com Haddad, ao menos na última pesquisa do Datafolha, aparecem empatadas tecnicamente e poderiam protagonizar uma luta renhida parecida para a segunda vaga do 2º turno.

Candidatura do MDB: Assim como em 1989, com Ulysses Guimarães, o partido com mais deputados do Brasil, o MDB, lançou presidenciável (Henrique Meirelles). Algo pouco comum nas presidenciais. Fora 1989 e 2018, isto só ocorrera em 1994, com Orestes Quércia. E igualmente como 1989 é uma postulação sem qualquer possibilidade de êxito, mesmo com muito tempo de TV.

Presidente impopular: Tanto o presidente de 1989, José Sarney, como o atual, Michel Temer, gozam de baixa popularidade (principalmente o segundo).

Diferenças

Eloquência do líder: Collor tem uma retórica muito melhor do que a de Bolsonaro, que, além da falta de ideias que escapem da generalidade, tem uma fraca oratória e um mau português. Collor, ademais de bom tribuno, dava bem menos tropeções na língua de Camões do que a grande maioria dos políticos.

O PT no imaginário coletivo: Em 1989 o PT era associado ao socialismo real. Ficou famosa a frase do então presidente da FIESP, Mário Amato, "se Lula ganhar, 800 mil empresários deixarão o Brasil". Ao longo dos anos o partido se foi aproximando do centro e mesmo que o mercado financeiro possa temer a volta de um de seus quadros ao Palácio do Planalto, só malucos ainda relacionam o PT ao socialismo real. Outra grande diferença sobre o partido da estrela vermelha é que no plano ético sua imagem hoje não é boa, após os vários casos de corrupção em que esteve envolvido, tendo mesmo seu líder histórico, Lula, na cadeia. Já em 1989, o PT era quase sinônimo de ética na política.

Comportamento eleitoral das regiões: Em 1989 o Nordeste, hoje bastião eleitoral do PT, votava mais à direita. E os principais apoios de Lula vinham do Sul e Sudeste (concretamente no 2º turno, quando Lula herdou a enorme votação de Brizola no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro). Ademais de ter mais apoio da classe média e menos dos pobres do que as candidaturas do PT soem ter hoje. Talvez justamente pela importância que a classe média dava à questão ética. Enquanto hoje o partido tem mais apoio dos pobres por causa da melhora de vida que tiveram nos anos em que Lula foi presidente.


sábado, 15 de septiembre de 2018

EFEITO MALUF


Desde que há 2º turno nas eleições presidenciais no Brasil, sempre o 1º colocado no 1º turno quando não teve votos suficientes para vencer o pleito logo na 1ª instância venceu também a disputa final do 2º turno.

Nas eleições majoritárias para os demais entes da União, o que se vê como tendência também é a eleição do campeão de votos no 1º turno.

Entretanto, nestas equilibradíssimas presidenciais de 2018, a regra pode ser quebrada. O líder das pesquisas do 1º turno, Jair Bolsonaro (PSL), perderia de todos os presidenciáveis com alguma chance real de irem para o 2º turno, com exceção de Fernando Haddad (PT), contra quem, segundo a maior parte das sondagens, teria uma leve vantagem.

A grande possibilidade do polêmico Bolsonaro não vencer no 2º turno remete a outro político muito controverso e antigo correligionário de Bolsonaro no PP quando ele era deste partido. Paulo Maluf. Mais concretamente a eleições para o governo do estado de São Paulo em que venceu no 1º e perdeu no 2º turno. Sendo que numa delas lograra uma expressiva votação no 1º.

Em 1990 Maluf teve 43,5% dos votos no 1º turno. Mas no 2º perdeu a eleição para Luiz Antônio Fleury Filho (PMDB), que se qualificou para o 2º turno com apenas 22,17%. O resultado do 2º turno, 51,57% x 47,23% para Fleury, sugeriu que Maluf perdeu de lavada entre os eleitores em disputa, que não tinham votado nem em um nem no outro no 1º turno, 34,33%, considerando-se apenas os votos válidos. Neste universo o hoje detido em prisão domiciliária Maluf, considerando-se que os que votaram no 1º tuno nos candidatos repetiram o voto, teria tido a preferência de só 13,77%.

Já em 1998, a votação de Maluf no 1º turno não foi tão maiúscula. Tendo 32,21%. Com o 2º colocado e que viria a ser reeleito governador de São Paulo, Mário Covas, tendo 22,95%.

No 2º turno Covas trinfou por 55,37% contra 44,63%.

Maluf, assim como Bolsonaro, gerava anticorpos de parte de muitos, seja pelo seu passado de "filhote da ditadura militar", quando foi prefeito de São Paulo e governador de São Paulo por determinação do regime, seja por suas declarações polêmicas, como "se está com desejo sexual, estupre, mas não mate" (a bem da verdade, explorada de modo um pouco oportunista pelos seus adversários, fora do contexto), "professora não é mal paga, é mal casada" e "se você tiver em uma fazenda e, na hora da colheita, tiver de optar entre um administrador petista e uma nuvem de gafanhoto, fique com os gafanhotos", ou pelo seu modo de governar, adepto da truculência na segurança pública e de grandes obras viárias em detrimento da política social. Ademais das suspeitas de corrupção que pairavam sobre ele e que se confirmaram depois.

Bolsonaro tem um histórico nulo a respeito de Maluf como administrador, pois nunca foi eleito para um cargo do executivo ou ocupou algum e tem uma bagagem intelectual muito inferior, a ponto de admitir saber pouco de economia e se recusar a responder sobre o tema, e vai até mais longe do que Maluf nas frases e pensamentos polêmicos, principalmente relacionados a sua nostalgia da ditadura militar e a deferência com que trata torturadores, como o algoz da ex-presidente Dilma Rousseff, Carlos Alberto Brilhante Ustra, e a suas posições que roçam a homofobia, o machismo e o racismo.

No campo das pessoas preocupadas com o politicamente correto ou, simplesmente, com a democracia e a tolerância, o grau de orjeriza em relação a Bolsonaro é ainda maior do que o que havia a respeito de Maluf.

Porém, Bolsonaro surfa numa onda de desejo de autoritarismo de grande parte da sociedade brasileira, in crescendo com o aumento da violência, pois para muitos suas propostas vão no melhor sentido para combatê-la, como permitir o armamento da população e aumentar a dureza com a qual é encarada a repressão à criminalidade (embora a política de segurança pública dependa mais dos estados). Além disso representaria o "novo" para muita gente ingênua. Alguém que por nunca ter ocupado nenhum posto em nenhum governo, apenas tendo sido legislador, estaria impoluto e livre do mar de lama da política brasileira.

Mesmo assim, num contexto em que seu adversário no 2º turno não nutra contra ele tantos ou mais anticorpos, seria difícil que o vencesse, sendo vítima duma barreira parecida a de Maluf. É por isto que os bolsominions gostariam de ter como rival Haddad. O antipetismo, muitas vezes irracional, de grande parte dos brasileiros poderia ser o grande aliado de Bolsonaro para que não haja um cordão sanitário contra ele e que contasse com o voto de eleitores que têm antipatia por ele mas não mais do que têm pelo PT.

Hoje Haddad, de acordo ao Datafolha, já está empatado com Ciro Gomes (PDT) nas intenções de voto e estaria com viés de alta. Porém, muita coisa ainda pode ocorrer até o dia do eleição. Variáveis novas, como a inevitável maior aparição de vice de Bolsonaro, Hamilton Mourão, que provavelmente assumirá a campanha com a impossibilidade do retorno de Bolsonaro após o crime do qual foi vítima no dia 6 de setembro e das cirurgias que teve de submeter-se, um maior conhecimento de Haddad por parte da população menos informada e que votaria em Luiz Inácio Lula da Silva se este pudesse concorrer e uma possível onda de votos úteis poderão mudar as chances dos candidatos na eleição mais competitiva da história do Brasil.