sábado, 28 de enero de 2017

MUNDIAL DE CLUBES VS TAÇA INTERCONTINENTAL

O comunicado da FIFA retirando o estatuto de Mundial de Clubes da antiga Taça Intercontinental esteve longe de ter gerado uma repercussão global. Na realidade, somente num país falou-se do tema. E muito. O Brasil.

Nas redes sociais abundaram comentários de torcedores de clubes que ganharam o Mundial e não a Intercontinental tripudiando os clubes que ganharam apenas o segundo. Nada de surpreendente para o nível médio de discussão do torcedor brasileiro, cuja linha é apenas o vantagismo, ignorando, por completo, a racionalidade, a razoabilidade a coerência. Algo que se densifica quando o assunto é estrelinha (relativa a títulos) a mais para seu clube e a estrelinha a menos para os rivais. Não importa que quem a chancele sejam entidades corruptas e compostas por sem-vergonhas e canalhas, como a FIFA ou a CBF (vide a vergonhosa homologação das Taças do Brasil como Campeonato Brasileiro em 2011).

Que a FIFA diga que Mundial de Clubes e Taça Intercontinental não são a mesma coisa não quer dizer, em absoluto, que o segundo troféu não valha nada, como parece ter sido o "entendimento" de muitos, e, mesmo, que seu valor seja muito distinto do Mundial.

Podemos dizer que o Mundial vale mais do que a Intercontinental devido à maior pluralidade do primeiro, já que conta com clubes de todos os continentes. Entretanto como muito dificilmente algum clube não europeu ou sul-americano teria vencido a antiga competição se fosse alargada como o Mundial, este valor deve ser apenas tido como um pouco maior. Se no Mundial há histórico de africanos e asiáticos vencendo sul-americanos, seria mais complicado de isto ter ocorrido num contexto em que aqueles eram piores estruturados do que hoje e em que estes eram bem melhores, já que ao menos até o começo do presente século não tinham sido arrasados pela Lei Bosman, que os fez perder muito mais facilmente jogadores para a Europa.

(O curioso é que mesmo que a frieza do aspecto participação global obrigue a dizer que o Mundial valha mais, para os europeus é um fato cristalino que a Taça Intercontinental era muito mais difícil, já que, ademais do campeão europeu não ter o rico esquadrão multinacional que tem hoje, enfrentava um campeão sul-americano muito mais potente. Tanto que nos históricos das Intercontinentais, os sul-americanos têm mais vitórias do que os europeus)

Entretanto, numa análise mais profunda, é fora da realidade julgar o próprio Mundial de Clubes como um verdadeiro Mundial. A verdadeira competição que seria digna do nome é a Liga dos Campeões Europeus. Todos sabem que a concetração dos melhores jogadores do mundo na Europa é enorme e que a diferença técnica entre os clubes europeus e os dos demais continentes é enorme.

Algo triste pois esta disparidade brutal não é advinda da naturalidade futebolística em sim. Não se deve ao fato dos jogadores europeus serem muito melhores e sim porque os clubes do Velho Continente são muito mais ricos. Isto torna o Mundial, em geral, apenas um trâmite para o campeão europeu. São necessários muitos fatores para a derrota deste, tais como que esteja longe de ser, de fato, o melhor da Europa, ou que o adversário esteja num dia muito inspirado ou que o goleiro deste o esteja ainda mais.

Neste contexto, julgo que o Mundial de Clubes nem deveria existir mais e que as disputas internacionais fossem apenas num âmbito de relativa competitividade e em que o favoritismo dos clubes que representassem uma determinada entidade não fosse tão flagrande.