A
pouco mais de um ano e meio para as presidenciais 2018 duas coisas
parecem muito prováveis. 1. Que a eleição só será decidida no
segundo turno. 2. Que Luiz Inácio Lula da Silva estará presente
nele. O único que poderia impedir isso é uma condenação em
segunda instância no âmbito da Lava-Jato do mais importante
político do Brasil desde Getúlio Vargas. Votos não lhe parecem
faltar. Aparece como líder em todas as pesquisas.
Outro
tema é se Lula poderá superar a rejeição e o antipetismo e
eleger-se no segundo turno. Há pouco isso parecia muito difícil.
Com a imagem do PT no chão, com o impeachment de Dilma Rousseff e
com o próprio Lula investigado e como réu em várias operações da
Lava-Jato, tudo indicava que qualquer candidato que estivesse com ele
no segundo turno reuniria votos suficientes para superá-lo. Mas a
última pesquisa da CNT mostrou que Lula também venceria nas
simulações de segundo turno.
Imaginemos
que Lula seja pela terceira vez eleito. Embora sua imagem sempre
fosse superior à do PT, suas vitórias sempre foram acompanhadas dum
crescimento do PT no número de legisladores. Hoje isto não se
vislumbra. Pelo contrário. O desgaste que o partido da estrela
vermelha está sofrendo por causa da Lava-Jata é enorme. Vide seu
fraco desempenho nas últimas municipais. Ou seja, Lula teria de
governar partindo duma base de apoio genuíno muito pequena. Tampouco
é de esperar bom desempenho de partidos que soem ser aliados mais
naturais do PT.
Do
outro lado, as alianças que Lula teria de fazer com a direita
(principalmente o PMDB) seria mais complexa do que as que fez durante
suas presidências. O enfretamento entre esta e o PT durante o
processo de destituição de Rousseff foi grande. Porém não seria
tão surpreendente que ambos esquecessem o passado recente e o
presente. O cinismo é uma marca da política brasileira. A própria
oposição que o PT faz ao governo Temer é relativamente branda. Mas
seria no mínimo curioso esperar qual seria a justificativa que o PT
e Lula dariam para aliar-se aos chamados «golpistas»
E os
eleitores de esquerda que apoiarão Lula? O que esperam duma possível
eleição dele? Conformar-se-ão que com a coalizão com a direita,
com os «golpistas»? Ou se estão iludindo, com o ânimo demonstrado
pelas, de momento, boas perspectivas de Lula com uma guinada à esquerda? Esquecem que não se
governa sem apoio parlamentar e que uma maioria conservadora no
parlamento é mais do que esperado?
Do
parte dos ex-aliados e hoje adversários, sabemos que estarão prontos para tudo
em nome de estar num governo. É o que está no DNA de siglas como o
PMDB, o PP , o PR, o PSD, entre outras.
O
que não seria nada fácil para Lula seria governar com as imposições
da PEC 241, que determina o não aumento de gastos acima da inflação.
Teria condições de, por meio de outra PEC, derrubá-la? Mesmo no
surrealismo da política brasileira, não vejo como possível que
deputados e senadores desfizessem o que fizeram há muito pouco
tempo. Salvo que houvesse uma grande renovação na Câmara e no
Senado (quase impossível no caso do último, pois grande parte dos
senadores terão ainda mais quatro anos de mandato). Assim sendo, seu
governo teria de ser muito engenhoso para investir no social, que,
certamente, será uma de suas bandeiras principais de campanha, e não
ultrapassar o teto de gastos.
Ademais,
a PEC 241 só poderá ser levada a cabo sem um grande corte de gastos noutras áreas, com alguma reforma da
previdência, pela natureza dos gastos com esta, crescentes por
osmose, devido ao envelhecimento da população. Se esta não for
aprovada durante o governo Temer (cada vez menos provável) que
solução para a questão daria Lula?
Tudo
somado, um Lula 3 teria uma governação muito mais complicada do que
o Lula I e o Lula II, época em que a conjuntura internacional era
bem mais favorável, em que o antipetismo era mais envergonhado, em
que não havia nada parecido a um condicionamento da governação
como a PEC 241 e em que o próprio Lula e o PT gozavam de mais
prestígio.
A
possibilidade de fracasso poderia ser grande. Entretanto, não se
pode subestimar alguém que de vendedor de laranjas, com apenas o
antigo primeiro grau completo, tornou-se o presidente de maior nível
de aprovação da história do Brasil.