domingo, 25 de marzo de 2012

ROUBANDO A HISTÓRIA


Há 90 anos era fundado o Partido Comunista Brasileiro. Apesar de uma quase invisibilidade, o PCB ainda está vivo. Seria, portanto, lógico e óbvio que o PCB fosse o único partido a estar comemorando este aniversário, neste 25 de março – ao fim e ao cabo nenhum outro partido brasileiro não foi fundado nessa data.

Entretanto, o 25 de março de 1922 está sendo apoderado há muito tempo por outro partido, o PC do B, o Partido Comunista do Brasil. Nascido duma cissão de um grupo de maoístas no seio PCB, em 1962, o PC do B se considera como a agremiação política criada há exatos 90 anos. 

É impressionante e surreal como o PC do B faz uma completa tábua rasa da coerência histórica. Nesta noite, o partido se vestiu de gala e com toda a pompa e circunstância, celebrou com uma grande festa no Rio de Janeiro o aniversário más ilegítimo e falso dum partido brasileiro.

É verdade que após a redemocratização do Brasil, nos anos 1980, o PC do B superou muito em tamanho o hoje esquecido PCB (muitos jornalistas e políticos até creem que o partido não existe mais). Mas a história não tem nada a ver com isto. Nem mesmo se o PCB não existisse mais, nenhum outro partido poderia considerar-se nascido naquela 25 de março de 1922.

Este episódio mostra mais uma vez o descomprometimento ético do PC do B para com a sociedade. Partido que há muito não tem praticamente nada de comunista ou qualquer aspecto ligado aos ideais socialistas, o PC do B é como um partido qualquer, no meio duma grande mesmice de siglas desideologizadas que só ambicionam cargos em governos, tendo apenas uma minoria de políticos sérios que trabalham pelo bem público e pela coletividade.

Ainda não consegui definir se os membros do PC do B que encheram o Twitter de mensagens regozijando-se com os tais 90 anos do partido são ignorantes em história ou se são mesmo cretinos.
Pior do que o PC do B propagar aos quantro cantos que cumpre 90 anos é haver tanta gente, principalmente da mídia, que acredita nisso, o que faz valer a máxima de Joseph Goebbels, de que uma mentira repetida mil vezes vira uma verdade.

Indepedentemente de qualquer avaliação que se faça do papel histórico do PCB, defender e deixar claro que é somente a este partido que pertence o 25 de março de 1922 é uma obrigação de todos os que são conscientes do absurdo que está fazendo o PC do B.

miércoles, 7 de marzo de 2012

RTP 55



Há 55 anos nascia a RTP. O canal, que viveu com várias naturezas diferentes ao longo de sua história, hoje pode ser vítima de grandes cortes que o podem desidratar e tirar seu papel como uma das principais referências mediáticas de Portugal.

A RTP foi quase tudo em sua existência: canal de propaganda da ditadura salazarista; uma das chaves do período revolucionário que desencadeou o 25 de abril; canal instrumentalizado pelos governos de turno eleitos democraticamente; e canal como modelo de isenção. No que se refere às audiências e ao share, a RTP também teve várias fases, com bons, maus e razoáveis números de espectadores.

Desde cerca de uma década, arrisco-me a dizer que o canal vive o melhor período de sua história, ao menos em relação a uma avaliação englobando qualidade da programação, independencia informativa e share. Após o cambalacho que foi o período de Emídio Rangel na direção do canal, com uma das grelhas mais rascas que este já teve, a RTP se não eliminou, ao menos acantonou suas emissões de gosto mais duvidoso. E no que toca às audiência e ao seu share, estes interroperam o ritmo de queda que se verificava desde a introdução dos canais privados no início dos anos 1990. Atualmente, a RTP sói ter só um pouco menos de público do que a SIC e a TVI e constantemente é líder nos telejornais, muito em razão da credibilidade e do rigor destes ante os dos canais privados.

Entretanto, parodoxalmente, a RTP pode entrar em um grande declínio. A crise económica pode arrastar o canal a uma significativa perda de influência na sociedade portuguesa. Para já, é muito provável que a RTP2 seja privatizada, o que acabaria com o canal de programação mais alternativa, inovadora e cultural de Portugal. Quanto à RTP1, se, de momento, não se equaciona seriamente sua venda, pode sofrer grandes cortes orçamentais, o que pode levá-la, a medio prazo, a ser algo parecido ao que é o canal americano estatal PBS, ou seja, com uma importância residual dentro do panorama televisivo português.

Para além de menos dinheiro do Estado, se vislumbra ainda a possibilidade da RTP não ter mais publicidade – é o que sugere o relatório comandado por João Duque no fim do ano passado sobre a reforma no sistema público de radiotelevisão. Isto seria um golpe terrível, já que deixaria a RTP ainda mais sem fôlego para levar aos portugueses uma programação de qualidade.

Já a respeito do seu canal canal internacional, a RTPi, o relatório propõe algo arrepiante, que este passe à tutela do Ministério de Negócios Estrangeiros, o que configuraria um manifesto desejo de governamentalizá-lo.

Um canal como a RTP é imprescindível para a democracia portuguesa. Em geral, são os canais públicos os maiores garantes da pluralidade e da diversidade dum país. A RTP deve ter condições mínima de seguir executando esta função, ainda que com menos canais e com um orçamento menor.