jueves, 1 de diciembre de 2011

FIM DE FERIADOS


Hoje, provavelmente, os portugueses tiveram pela última vez o 1 de Dezembro como feriado nacional. A proposta do governo de banir da lista de dias não laboráveis inclui ainda o dia da Instauração da República, o 5 de Outubro; o do Corpo de Deus, no dia 23 de Junho; e o da Assunção de Maria, no dia 15 de Agosto. Tudo em prol de combater a crise por meio de uma suposta maior produtividade nos locais de trabalhos.

O número de feriados em Portugal não é muito diferente dos demais países da Europa. A medida soa mais como um voluntarismo do executivo de Pedro Passos Coelho, que faz duas vítimas com apenas um tiro. A primeira vítima é a história portuguesa, que é obviada, não havendo feriado em algumas de suas mais importantes datas. Tanto o 5 de Outubro como o 1 de Dezembro são datas-marco, em que, goste-se ou não, Portugal iniciou ciclos muito diferentes dos que havia deixado para trás. A segunda vítima são os trabalhadores portugueses, que perdem dias de descanso, já não bastassem as horas a mais em sua semana laboral e ordenados a menos no fim do mês.

Mesmo partindo do princípio que deva haver menos feriados, é injusto que quem pague o pato sejam o 5 de Outubro e o 1 de Dezembro. Como seria injusto se fossem retirados quaisquer dos outros feriados de carácter histórico - ainda que a intenção do governo seja dividir de maneira igualitária a retirada dos feriados deste género com os feriados religiosos.

O facto é que Portugal, como a vizinha Espanha e os países ibero-americanos, tem muitos feriados religiosos. Tanto Portugal como estes países deveriam velar pelo seu espírito laico (ao menos a maior parte deles é regido por um princípio constitucional laico) limitando ao mínimo os feriados religiosos. Estes violam a separação da Igreja e do Estado, ofendendo aos não crentes e aos crentes de outras religiões que não a católica.

Já que se quer cortar em feriados, o correcto, neste momento, portanto, seria acabar com os feriados religiosos. O único que poderia ser mantido é o do 25 de Dezembro, pelo seu sentido, hoje em dia, quase ecuménico e que vai além da religão (até muitos dos ateus celebram o chamado Natal, apesar de seu fundo ser ineludivelmente religioso). E nas vagas que ainda sobrassem poderiam ser introduzidos feriados laicos, mesmo que não tivessem a ver, concretamente, com a história de Portugal. Há datas que podem ser tidas como universais, como a Declaração dos Direitos do Homem e o Solstício de Verão e de Inverno. Inclusive o Dia do Pai poderia ser feriado.

Ao contrário do que diz o folclórico D. Duarte de Bragança, o fim do feriado de 1 de Dezembro não põe, em absoluto, em risco a soberania de Portugal. Assim como o fim do 5 de Outubro como feriado não abre a perspectiva de nenhuma mudança de regime. Mas farão muita falta como representação do simbolismo da nação portuguesa.

Oxalá os portugueses que me estão a ler tenham tido um bom 1 de Dezembro e oxalá, um dia, esta data regresse como feriado, assim como o 5 de Outubro.

2 comentarios:

Anónimo dijo...

"(...)25 de Dezembro, pelo seu sentido, hoje em dia, quase ecuménico e que vai além da religião (até muitos dos ateus celebram o chamado Natal, apesar de seu fundo ser inevitavelmente religioso)."
Um mau ateus sem dúvida mas eu como boa ateia que sou não o celebro. Também à, claro está, de ter em conta as outras religiões que celebram os seus próprios feriados que não o Natal. Tens razão em dizer que o Natal é obviamente cristão. Porque assim o é. Uma ideia melhor seria,, na minha opinião transformar o dia 21 de Dezembro no Feriado do solstício de Inverno. Ao fim ao cabo deixaria to da a gente contente. Daria oportunidade para os cristãos celebrarem o natal este dia e para os pagãs celebrarem o Yule e ao mesmo tempo contentaria os ateus como eu e as pessoas de outras religiões.
De resto concordo inteiramente contigo. É pena que um estado se diga laico enquanto não o é inteiramente. E também é pena que a media que facilmente detecta os defeitos dos outros países, especialmente os Árabes, tente ignorar as opiniões das outras pessoas.

Cauê Nascimento dijo...

Pois, a respeito do 25 de Dezembro, para mim o ideal era fazer como no Uruguai. Lá oficialmente não se celebra o Natal e sim o Dia da Família. Assim como a Semana Santa é chamada de Semana do Turismo.