lunes, 12 de junio de 2023

30 anos da quebra do tabu palmeirense

 

Lia Cid Moreira no teleprompter durante o Jornal Nacional de 12 de junho de 1993 antes da matéria sobre a final do Campeonato Paulista daquele ano, que aquele fora o melhor Campeonato Paulista dos últimos tempos. Não sei se o foi, mas ao menos dois grandes esquadrões havia: o campeão Palmeiras e o então bicampeão da Libertadores e que viria a ser bicampeão da Taça Intercontinental no fim daquele ano São Paulo.

Embora já em 1992, no primeiro ano da parceria com o Palmeiras, a Parmalat já tivesse feito contratações de impacto, como a de Zinho e Mazinho, só em 1993 que começou a investir de fato pesado, trazendo ainda mais jogadores extraclasse, como Antônio Carlos, Roberto Carlos, Edilson e Edmundo. Para quebrar o tabu de 15 temporadas sem título do Palmeiras, a Parmalat colocava “toda carne no assador”.

Discutia-se à época quem tinha ao menos no papel o melhor time, o Palmeiras ou o então supercampeão São Paulo, de Zetti, Cafu, Palhinha, Raí e Müller. Mas poucos divergiam de que a final seria entre os dois.

Durante a fase de classificação, em que os 14 clubes do Módulo Verde jogaram todos contra todos em turno e returno, apesar dalguns tropeços e, principalmente, crises, o Palmeiras garantiu o primeiro lugar. Uma dessas crises gerou a demissão do técnico Otacílio Gonçalves, após a derrota de 2 a 1 para o Mogi-Mirim, no Palestra Itália. Curiosamente o protagonista dessa partida foi Rivaldo, que iria brilhar no Palmeiras entre 1994 e 1996.

Poucas derrotas acabaram sendo tão positivas para o Palmeiras. Pois para o lugar de Otacílio veio Vanderlei Luxemburgo graças ao que foi uma enorme sorte que teve a diretoria do Palmeiras e a Parmalat. O técnico que queriam contratar era o recentemente falecido Nelsinho Rosa. Porém, esse só teria disponibilidade de começar a trabalhar no clube após o prazo que o Palmeiras lhe tinha dado. Embora até 1993 Nelsinho tivesse tido bons trabalhos, como ter sido campeão estadual do Rio de Janeiro com o Fluminense duas vezes (1980 e 1985) e campeão brasileiro com o Vasco em 1989, a diferença para o técnico que sobrou como plano B, que seria um dos maiores (para muitos o melhor) da história do futebol brasileiro, era grande. Nelsinho inclusive nunca mais realizaria um grande trabalho como treinador.

Com Luxemburgo, o Palmeiras cavalgou sem problemas para a final do campeonato. O regulamento dera uma grande vantagem para o primeiro da fase de classificação. Além de ter um ponto extra (numa época que a vitória era de dois pontos) no quadrangular semifinal, estaria no grupo do quinto e sexto colocados do Módulo Verde e segundo do Amarelo. Isso significou não ter de duelar com nenhum grande. Enquanto isso, São Paulo, Corinthians e Santos, segundo, terceiro e quarto colocados na fase de classificação, respectivamente, ficaram num só grupo.

O favoritismo do São Paulo neste grupo primeiramente foi ameaçado pelo excesso de jogos (tendo de jogar as finais da Libertadores também, o São Paulo teve de jogar algumas partidas com reservas ou com o time cansado), indo para o espaço na penúltima rodada do grupo na partida contra o Corinthians. Liderando-o e com um ponto de vantagem sobre o Corinthians, um empate já seria suficiente para que o São Paulo dependesse dele na última rodada para ser finalista e protagonizar a tão especulada final contra o Palmeiras. Entretanto, apesar da superioridade em campo, dois grandes erros capitais da arbitragem, um gol mal anulado por impedimento de Palhinha e um que deveria ter sido anulado de Neto, esse sim impedido, deram a vitória para o Corinthians por um a zero e uma mão na vaga na final, que viria a ser confirmada três dias depois após a vitória contra o Novorizontino, em Novo Horizonte, por 3 a 0, tornando inútil a goleada que o São Paulo impôs ao Santos por 6 a 1 na última partida de Raí pelo São Paulo até a sua volta em 1998.

Acredito que a classificação do Corinthians foi fundamental e, talvez, imprescindível para a quebra do tabu palmeirense. Se o seu adversário na final fosse o São Paulo, a dificuldade do Palmeiras seria muito maior. O São Paulo jogava o fino, vinha embalado com o bicampeonato da Libertadores e com algo essencial no futebol: tinha muita confiança. Já os jogadores do Palmeiras, ao menos pelo que mostraram no primeiro jogo da final contra o Corinthians, em que perdeu por 1 a 0, sentiam um peso grande pela tácita obrigação de dar um título ao clube depois de tantos anos. Os próprios antecedentes entre São Paulo e Palmeiras nesse mesmo campeonato, um empate de zero a zero em que o São Paulo foi superior e uma vitória de 2 a 0, pressuporiam um favoritismo são-paulino numa eventual decisão entre os dois.

Tendo pela frente o Corinthians, a diferença técnica era grande, e o Palmeiras no segundo jogo pôde reverter a derrota, sendo campeão após uma goleada por 4 a 0, num jogo que só teve uma verdadeira disputa até a expulsão do zagueiro corintiano Henrique (o mesmo envolvido com Cuca no suposto sexo com uma menor de idade na Suiça quando defendiam o Grêmio em 1987) quando o jogo já estava 1 a 0 para o Palmeiras. Após ela, o Palmeiras dominou amplamente a partida fazendo mais dois gois no segundo tempo do tempo normal e um no primeiro da prorrogação. A história só poderia ter sido diferente se o árbitro José Aparecido de Oliveira tivesse expulso Edmundo numa violenta entrada no corintiano Paulo Sérgio um pouco depois da expulsão de Henrique.

O título palmeirense, ademais de acabar com o jejum de conquistas, foi o primeiro de vários durante a parceria com a Parmalat e também o que lançou Luxemburgo como treinador prestigiado, capaz de aliar refinada qualidade de jogo e resultado. A minha dúvida é o que teria ocorrido se o título não viesse e se o Palmeiras teria conquistado esses títulos com uma possível crise que se instalaria no clube. Mas história contrafactual e o “se” é apenas uma “masturbação” mental...