viernes, 24 de febrero de 2012

CHUMBO À ADOÇÃO


Passados dois anos da mudança do Códido Civil português que possibilitou o casamento entre homossexuais, a Assambleia da República voltou ao tema, esta sexta-feira, para votar propostas do BE e d’Os Verdes que propunham que os casais homossexuais pudessem também adotar.

Com um parlamento de maioria de direita, a proposição do BE foi facilmente chumbada. E se não faltavam deputados conservadores para travar a adoção, estes ainda tiveram o apoio de parte dos deputados do PS e de toda a bancada do PCP.

Três aspectos podem ser sublinhados sobre o tema. O primeiro foi a posição medrosa do PS em 2010, quando era governo e tinha a maioria dos deputados do parlamento. Na prática o PS é o principal responsável pelo facto dos casais homossexuais não poderem adotar hoje, já que é habitual a direita opor-se a estes assuntos. Agora, a maioria do partido está a favor da adoção, mas, com a direita no poder, Inês é morta.

O segundo aspecto foi o voto do PCP. Ao contrário de todos seus partidos homólogos na Europa, que defendem vigorosamente o direito à adoção da parte dos casais homossexuais, o PCP fincou se numa posição retrógrada.

O terceiro aspecto é a rareza de Portugal em relação à generalidade dos países que permitem o matrimónio homossexual. Enquanto nos outros países o casamento entre homossexuais habilitou automaticamente o direito à adoção, Portugal foi vacilante, fechando as portas a isto aos casais do mesmo sexo. Paradoxamente, o homossexual, como solteiro, sim tem o direito à adoção.

Particularmente, creio que é um pouco melhor para uma criança ser criada por pais dos dois sexos. Assim teria um referente homem e outro mulher (nem ponho a questão da sexualidade destes em si). Entretanto, considero esta questão apenas como um detalhe a mais, e dos menos significativos, no momento de decidir-se sobre a adoção dum miúdo quando há vários casais candidatos para a adoção deste. Entre um casal homossexual e um heterossexual que queiram ficar com um miúdo, a natureza sexual do casal só deveria favorecer ao segundo se ambos casais fossem avaliados da mesma maneira em outros quesitos. O grande problema é os casais homossexuais estarem, à partida, excluídos do processo de adoção.

Se é de louvar o facto de Portugal ser dos poucos países do mundo que habilitam o matrimónio igualitário, ainda resta a mácula dos casais homossexuais estarem blindados de adotar, o que faz com que o Estado português ainda tenha um tratamento discriminatório perante este grupo.

jueves, 23 de febrero de 2012

ZECA AFONSO SEMPRE!


Há um quarto de século partia para o desconhecido um dos maiores ícones de sempre da canção portuguesa. José Afonso, ou, simplesmente, Zeca Afonso, foi o símbolo, por meio de seus temas, de um Portugal solidário e fraterno.

O vértigo provocado pelo 25 de abril teve em Zeca Afonso sua máxima expressão – por todo o conjunto de seu trabalho, e não apenas pelo maior expoente deste e senha para a Revolução dos Cravos, “Grândola, Vila Morena”.

Em cada uma das estrofes de suas músicas estava representado o ideário de liberdade e igualdade. Antes e depois da data que devolveu a democracia a Portugal, o trabalho de Zeca Afonso calou fundo, sensibilizando grande parte do país, primeiro como fator de protesto depois como fator de esperança.

Passadas quase quatro décadas do 25 de abril, Portugal, certamente, não é o que Zeca Afonso sonhava que fosse e o que suas canções clamavam. As lutas também têm outra dimensão, talvez até mais difíceis do que então. Se há liberdade política há resignação ante a crise social e económica que abate o país. O inimigo, tão vivo e real do antes do 25 de abril, agora se esfuma entre as brumas da grande austeridade, do défice, da dívida e do desemprego.

Não sei se Zeca Afonso saberia interpretar este momento, como o fez tão bem com suas canções durante os anos 1960 e 1970. O facto é que ele faz imensa falta, pois diferentemente do lema do PCP não só quem cá está faz falta. Felizmente, foi-se homem mas não a obra. Esta ficará para sempre no disco rígido da cultura popular portuguesa, que tem na figura de Zeca Afonso sua representação por excelência.

Para além da seu tão esplenderoso labor, também devemos resgatar o Zeca Afonso cidadão, que morreu mais pobre do nasceu. Que passou grande parte de sua vida com dificuldades económicas. Que nunca aceitou títulos e condecorações oficiais. Que sempre foi coerente e consequente em suas ações. Que dizia o que pensava e pensava o que dizia. Um português que fez mais por Portugal do que por ele mesmo.

Zeca Afonso faleceu há 25 anos, mas vive em cada pessoa que se identifica com sua obra e com a pessoa que foi. Hoje só uma coisa “faz falta”, recordar com carinho o nosso querido Zeca, um homem “maior que o pensamento”.