1999. Da aliança entre três partidos de esquerda, UDP, PSR e Política
XXI, cujo apenas o primeiro conseguira alguma vez em sua história
representação na Assembleia da República, surge o Bloco de Esquerda. Com
grande repercussão mediática, projetava-se que poderia tirar muitos
eleitores do PS e do PCP. De facto, o BE teve e ainda tem votações
muitos melhores do que as que tinham separados os partidos que lhe deram
origem.
17 de março de 2002, eleições legislativas. O
PCP com a sua tradicional fórmula eleitoral com o PEV, a CDU, alcança
apenas 7% dos votos válidos. O pior resultado de sempre da história do
partido da foice e do martelo.
27 de novembro de 2004,
depois de 12 anos como secretário-geral do PCP, o relativamente moderado
Carlos Carvalhas deixa a liderança do partido para dar lugar a Jerónimo
de Sousa, considerado como um dos principais membros da ala
conservadora do partido, que, na época, chocava-se, ainda que
intramuros, com a ala renovadora.
Estes três factos
faziam com que muitos vissem o PCP em queda livre, a caminho da
irrelevância no cenário político português. A quase imparável queda de
votações em eleições desde o começo dos anos 1980, com a consequente
perda de deputados e autarcas, que poderia ser incrementada com o
surgimento dum partido que ocupava espaço ideológico parecido, somava-se
à chegada dum líder com uma imagem e visão de mundo supostamente
ultrapassadas.
Entretanto, contra a maioria dos
vaticínios, o PCP não definhou, como logrou boas votações nas últimas
eleições, considerando-se que desde 1999 deve competir pelos votos da
“esquerda vermelha” com o BE. A melhor talvez tenha sido os 11% nas
eleições autárquicas do último domingo e principalmente a reconquista de
concelhos símbolos do poder local comunista durante muitos anos, como
Beja, Évora, Loures e Portalegre.
Talvez, parte da
manutenção do PCP como partido ainda significativo na composição
política portuguesa explique-se em razão da grande crise económica e
social que vive Portugal desde 2009. Nunca tendo sido parte de qualquer
governo constitucional, os eleitores pouco poderiam culpar o PCP.
Entretanto, o mesmo não ocorreu com o BE, partido que também sempre fez
oposição à esquerda, que nas eleições do domingo passado teve uma
votação raquítica perdendo a única câmara municipal que possuía.
O
revigoramento do PCP é fruto duma enorme capacidade de trabalho de seus
militantes, duma coerência discursiva e de governações (as municipais)
honestas, sérias e competentes. Tanto que o partido consegue votos mesmo
de pessoas sem grande simpatia pela teoria marxista. Também Jerónimo de
Sousa, outrora ridicularizado, é um dos principais responsáveis pelo
PCP ainda manter-se rijo. Nenhum dos líderes partidários em Portugal é
tão carismático como ele. Capaz de atrair a simpatia até de quem nunca
votou ou votará no PCP.
Tendo votação na casa dos 10% o
PCP mantém-se também como caso único na Europa ocidental, onde é o único
partido marxista a alcançar tal registo nos escrutínios.
Subestimar a força do mais antigo dos partidos políticos portugueses foi um grande erro da comunicação social em Portugal.
lunes, 30 de septiembre de 2013
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