lunes, 30 de septiembre de 2013

A FORÇA DO PC

 1999. Da aliança entre três partidos de esquerda, UDP, PSR e Política XXI, cujo apenas o primeiro conseguira alguma vez em sua história representação na Assembleia da República, surge o Bloco de Esquerda. Com grande repercussão mediática, projetava-se que poderia tirar muitos eleitores do PS e do PCP. De facto, o BE teve e ainda tem votações muitos melhores do que as que tinham separados os partidos que lhe deram origem.


17 de março de 2002, eleições legislativas. O PCP com a sua tradicional fórmula eleitoral com o PEV, a CDU, alcança apenas 7% dos votos válidos. O pior resultado de sempre da história do partido da foice e do martelo.


27 de novembro de 2004, depois de 12 anos como secretário-geral do PCP, o relativamente moderado Carlos Carvalhas deixa a liderança do partido para dar lugar a Jerónimo de Sousa, considerado como um dos principais membros da ala conservadora do partido, que, na época, chocava-se, ainda que intramuros, com a ala renovadora.


Estes três factos faziam com que muitos vissem o PCP em queda livre, a caminho da irrelevância no cenário político português. A quase imparável queda de votações em eleições desde o começo dos anos 1980, com a consequente perda de deputados e autarcas, que poderia ser incrementada com o surgimento dum partido que ocupava espaço ideológico parecido, somava-se à chegada dum líder com uma imagem e visão de mundo supostamente ultrapassadas.


Entretanto, contra a maioria dos vaticínios, o PCP não definhou, como logrou boas votações nas últimas eleições, considerando-se que desde 1999 deve competir pelos votos da “esquerda vermelha” com o BE. A melhor talvez tenha sido os 11% nas eleições autárquicas do último domingo e principalmente a reconquista de concelhos símbolos do poder local comunista durante muitos anos, como Beja, Évora, Loures e Portalegre.


Talvez, parte da manutenção do PCP como partido ainda significativo na composição política portuguesa explique-se em razão da grande crise económica e social que vive Portugal desde 2009. Nunca tendo sido parte de qualquer governo constitucional, os eleitores pouco poderiam culpar o PCP. Entretanto, o mesmo não ocorreu com o BE, partido que também sempre fez oposição à esquerda, que nas eleições do domingo passado teve uma votação raquítica perdendo a única câmara municipal que possuía.


O revigoramento do PCP é fruto duma enorme capacidade de trabalho de seus militantes, duma coerência discursiva e de governações (as municipais) honestas, sérias e competentes. Tanto que o partido consegue votos mesmo de pessoas sem grande simpatia pela teoria marxista. Também Jerónimo de Sousa, outrora ridicularizado, é um dos principais responsáveis pelo PCP ainda manter-se rijo. Nenhum dos líderes partidários em Portugal é tão carismático como ele. Capaz de atrair a simpatia até de quem nunca votou ou votará no PCP.


Tendo votação na casa dos 10% o PCP mantém-se também como caso único na Europa ocidental, onde é o único partido marxista a alcançar tal registo nos escrutínios.


Subestimar a força do mais antigo dos partidos políticos portugueses foi um grande erro da comunicação social em Portugal.