domingo, 14 de febrero de 2010

A SACROSSANTA "LIBERDADE" DE IMPRENSA E A NECESSIDADE DE UMA ESQUERDA MEDIÁTICA EM PORTUGAL

As supostas tentativas de condicionamento por parte do governo de José Sócrates aos media está a causar um enorme rebuliço e indignação da parte de vários directores de jornal e comentadores.

Justo ou não – cada noticia que vejo faz-me pensar que, de facto, o governo está a tentar controlar parte da comunicação social – o bradar destes jornalistas, quando impunham ao alto a liberdade de expressão e de imprensa, choca-me um pouco.

Nada contra a liberdade de expressão e imprensa, pelo contrário. Esta liberdade é parte fulcral da democracia. Um país sem liberdade de imprensa ou, para não colocar a fasquia muito alta, sem um razoável grau de liberdade de imprensa, terá uma democracia manca.

O problema é que a realidade dos media em Portugal nunca foi muito rósea – e aqui não faço, juro, qualquer referencia ao rosa do Partido Socialista – no que se refere à liberdade de imprensa. Ou, pelo menos, esta sempre esteve condicionada à liberdade de empresa.

Há muito tempo que todos os media privados estão nas mãos de poderosos grupos conservadores (SONAE, CONTROLIVEST, PT, CONFINA, IMPRESA, etc) – coisa que não é muito normal no resto da Europa. Para poder dar um toque de pluralidade não abrem mão de contar com colaboradores que não comungam necessariamente com os seus valores. Entretanto estes fazem parte de uma sorte de quota, são algo de pontual. O essencial está na linha editorial e esta sempre esta a pender para a direita.

Com este panorama, apenas uma parte da sociedade terá “representação” na aclamada liberdade de imprensa.

Por isso, urge em Portugal um grupo mediático com uma linha progressista, principalmente a pensar no surgimento de um jornal que estivesse mais à esquerda. Nem que fosse um progressismo altamente moderado, como ocorre em Espanha com o PRISA. Grupo que foi muito criticado pelo caso Manuela Moura Guedes.

O afastamento da veterana pivot foi tratado como escândalo, até com uma possível interferência do governo de Sócrates. Mas, pensaram os escandalizados por que estes espanhóis segurariam alguém de natureza política e, principalmente, de estilo diferente da que os comandados de Jesus Cebrián representam?

A entrada da PRISA na MEDIA CAPITAL a principio, poderia ser vista como a realização deste desejo. Porém, a MEDIA CAPITAL tem um carácter demasiadamente próprio, o do finado BIG BROTHER, o do casal José Eduardo Moniz e Manuela Moura Guedes, e o do jornalismo rasca e populista, por exemplo.

Talvez, por isso, os espanhóis tenham querido sair da MEDIA CAPITAL. Pois para aplicar no MEDIA CAPITAL a sua natureza deveria mudar quase todo o grupo, com o enorme risco que isso acarretaria.

Ao menos Portugal conta com uma forte, e com razoável qualidade, empresa estatal de radio e televisão, a RTP. Hoje, com um bom nível de blindagem contra a governamentalização, que alcançou seu ápice na era dos homenscavaquiens e que pouco se queixaram os que hoje arrancam os cabelos em nome da liberdade.

Não acho, em absoluto, que o governo deva incentivar por meio da PT ou de outros grupos a criação de um grupo mediático progressista, como está a denunciar o semanário Sol. A politização de um media não pode estar junta com a sua partidarização e, muito menos, com o vantagismo que este possa gozar pela “amizade” com um partido ou governo.

O que defendo é que, espontaneamente, pese a ingenuidade que isto possa supor, um grupo de pessoas ou empresários, sem interesses ocultos, leve a cabo este projeto que seria tão importante para um espectro mais plural dos media em Portugal.

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