miércoles, 8 de octubre de 2014

POLARIZAÇÃO MANCA

Diz-se que o Brasil vive há 20 anos polarizado politicamente entre o PT e o PSDB. Se o escopo da análise forem as eleições presidenciais, a afirmação é correta. Pois desde as presidenciais de 1994 as candidaturas do PT e do PSDB alternam-se no primeiro e no segundo lugar.

Porém a tal polarização política no Brasil se resume às presidenciais. Nas outras eleições (estaduais, municipais e legislativas) o que vigora é a fragmentação. Ao fim e ao cabo, são 25 os partidos com representação parlamentar na Câmara Federal e no Senado (sendo que o partido que terá mais deputados na Câmara a partir de 1 de janeiro de 2015, o PT, só terá 70 entre os 513 deputados, ou seja, apenas 13,6% dos deputados), nove que atualmente estão no comando de governos estaduais e 12 que estão à frente dos Executivos das cem cidades mais populosas do Brasil.

Ou seja, esta longa briga de PT e PSDB na disputa da presidência da República está longe de reproduzir-se nas demais esferas da política eleitoral brasileira. Entretanto é verdade que na falta de uma polarização real os dois partidos tacitamente assumiram um papel de liderança na divisão política do Brasil.

Se não logram formar robustas representações noutros espaços para serem de fato partidos polarizadores, lograram ser os dois com os projetos mais fortes para o Brasil. Isto tem-se refletido nas últimas seis eleições presidencias, sendo os partidos que apresentam os candidatos mais competitivos para ocupar o Palácio do Planalto. Se de um lado temos o PSDB, partido de tendências mais liberais em termos econômicos (sem deixar de ter preocupações sociais), do outros temos o PT, partido que prega mais participação estatal na economia (sem deixar de utilizar ferramentas ortodoxas e liberais).

Talvez este cenário só tenha sido possível por terem sido os partidos que impuseram as principais lideranças no plano nacional desde a redemocratização do Brasil, um país onde a política é assaz personalista. O PT teve (e ainda tem) Lula da Silva, o mais carismático político da história do Brasil (sim, mais carismático do que Getúlio Vargas), o único capaz de fazer com que um país conservador como o Brasil, pudesse dar a presidência da República a um partido de esquerda (ainda que cada vez menos com o passar dos anos). Já o PSDB, se não teve uma figura tão atraente como Lula, reuniu nomes de muita potencialidade eleitoral, como Fernando Henrique Cardoso, o único que logrou vencer presidenciais no primeiro turno, muito devido ao fato de seu nome estar associado ao fim da macroinflanção,  e  governadores dos Estados mais populosos do Brasil, São Paulo e Minas Gerais, como José Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves (todos com boa popularidade durante seus mandatos).

Se a partir das primeiras eleições presidenciais depois da redemocratização, em 1989, o PT tornou-se uma espécie de referência da política brasileira, balizando o que seria direita e esquerda dentro do caótico alinhamento ideológico dos partidos brasileiros (ainda que não tenha aberto mão de fazer alianças com diversos setores conservadores da política brasileira em nome da chamada governabilidade), o PSDB  foi dos poucos partidos que encarnou o papel de oposição aos governos liderados pelo PT a partir de 2003. Nas sucessivas presidenciais, portanto, seria difícil imaginar que candidatos de outros partidos assumissem um papel de oposição às candidaturas do PT se estiveram no governo junto com este. Talvez esta tenha sido a principal dificuldade duma candidatura como a de Marina Silva este ano. Apesar de, na onda da comoção com a morte do titular de sua chapa, Eduardo Campos, ter estado muito bem nas pesquisas e até liderado as intenções de voto numa simulação de segundo turno, no final das contas não conseguiu projetar aos eleitores insatisfeitos com o governo da petista Dilma Roussef a figura da oposição mais eficaz a ele.

A verdadeira e até, em certa medida, desejável polarização política (e ideológica) no Brasil só ocorrerá quando houver uma maior racionalidade da classe política e dos eleitores (o segundo muito difícil a curto prazo com uma população tão despolitizada como a brasileira).

O ideal não é que haja menos partidos como pregam muitos (o Brasil até tem poucos em comparação a outros países), mas que estes não tenham como principal objetivo barganhar apoio aos governos de turno em troca de cargos e ministérios, e sim que possam ter uma postura ideológica relativamente sólida sendo, portanto, previsível seu apoio ou oposição ao candidato que é eleito a cada eleição.

Enquanto houver dezenas de partidos com representação parlamentar, com a maioria estando pronta para apoiar do modo mais interesseiro possível seja um Executivo liderado por um petista seja um por um tucano, o Brasil viverá o pior tipo de polarização. A que se dá no combate do PSDB e do PT pela presidência, mas em que vencedor das eleições só pode governar coptando uma maioria de partidos e parlamentares com pouco compromisso ideológico e que só lhe dá sustenção em razão de seu oportunismo. 

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