lunes, 6 de octubre de 2014

PERSPECTIVAS PRESIDENCIAIS

O Brasil encaminha-se para ter, talvez, a eleição presidencial mais acirrada desde que há segundo turno, o que é o mesmo que dizer desde a redemocratização do país no anos 1980.

A diferença percentual de votos no primeiro turno entre os candidatos qualificados para o segundo turno, Dilma Roussef e Aécio Neves, é a menor de todas os candidatos que foram para segundos turnos em presidencias.

Será a primeira eleição presidencial desde 1989 com perspectivas de grande equilíbrio e incerteza sobre o vencedor até a apuração das urnas. Até aqui a única que teve alguma indefinição ao longo da campanha foi justamente a que inaugurou o novo período de eleições diretas a presidente, há um quarto de século, quando Collor de Mello foi eleito presidente derrotando Lula da Silva no segundo turno, com 53% contra 47% dos votos. Nas demais onde houve segundo turno (2002, 2006 e 2010), sem haver uma diferença arrasadora, não era difícil de prognosticar o triunfo dos que vieram a ser os eleitos. Em 2002, Lula contra o governista José Serra sabia que poderia contar com votos suficientes dos outros candidatos desclassificados no primeiro turno, que, como ele, faziam oposição ao governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso, para vencer a eleição. Em 2006, os votantes da terceira colocada Heloísa Helena dificilmente dariam seu voto ao oponente do reeleito Lula, Geraldo Alckmin, pelo seu perfil ideológico. E em 2010 para Roussef não seriam necessários muitos votos em termos percentuais dos eleitores da terceira colocada no primeiro turno Marina Silva para vencer José Serra.

Já neste escrutinínio o cenário é mais complexo. A diferença entre a primeira colocada Roussef e Neves não é tão grande. E os votos dos eleitores da novamente terceira colocada no primeiro turno Marina Silva terão um peso maior desta vez. Ademais os chamados candidatos nanicos também tiveram nesta eleição mais votos do que em outras.

Se o crescimento de Roussef for na mesma base do que teve no segundo turno de 2010 em relação ao primeiro (16,5%, passando de 46,91% a 56,05%) a petista venceria com 52,38%. Porém, o arranque que Neves teve na reta final da campanha, dado como fora do segundo turno quando há poucas semanas do sufrágio tinha apenas 15% das intenções de voto e terminando a eleição com inimagináveis 33,55%, somado à estagnação econômica real (considerando-se o crescimento do PIB em temos per capita) que tem vivido o Brasil, durante praticamente todo o governo de Roussef - cenário muito distinto de quando foi eleita como a delfim de Lula em 2010, quando o Brasil crescia como nunca havia crescido nas últimas décadas - podem fazer com que seu crescimento no segundo turno em relação ao primeiro seja proporcionalmente maior do que a base de crescimento da anterior candidatura presidencial do PSDB (25,8%, de 32,61% para 43,95%). Outro fator que poderia alavancar Neves é uma possível declaração de apoio de Marina Silva a ele. E ainda existe a possibilidade de que o escandândalo de propinas em volta da Petrobrás possa prejudicar Roussef. Depoimentos à Polícia Federal do doleiro Alberto Youssef poderiam vazar e ter muito eco na mídia opositora.

Será um mês de intensas emoções. Uma pena que a campanha deva ser pautada mais por críticas aos adversários do que por proposições por parte dos candidatos, como é hábito na política brasileira.

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