domingo, 31 de octubre de 2010

PORQUE NO SEGUNDO TURNO VOTARIA EM DILMA ROUSSEF

Em geral, o eleitor escolhe em quem votar no segundo turno para: ratificar a escolha do primeiro turno (se seu candidato “classificou-se” para o segundo turno); para eleger a melhor opção dos que “sobraram”; ou para impedir a eleição de um dos dois candidatos mais do que para eleger a um deles.

Independente de como é sustentado o voto de cada eleitor, o segundo turno das eleições majoritárias é um perfeito instrumento da consolidação do consenso para gerir um município, Estado ou a Federação. Para além de permitir que candidatos com menos chances no primeiro turno sejam sufocados pelo voto útil.

Países que não contam com segundo turno em eleições majoritárias são carentes desta clarificação: primeiro porque podem eleger candidatos que a maior parte da população que está em contra; e segundo porque os candidatos com menos músculo eleitoral podem ser negligenciados por quem os teria como primeira escolha. Este é o caso dos EUA.

Pela terceira eleição presidencial seguida houve a necessidade de um segundo turno para eleger o chefe do executivo brasileiro, sempre com candidatos do PT e do PSDB, partidos que tem apresentado desde 1994 as principais alternativas de voto da população. Não tanto pelos partidos em si. Mas pelo fato de concentrarem os nomes mais apelativos, pelo carisma ou confiança que geraram.

Empatados em número de eleições presidenciais vencidas (2x2), o escrutínio de 2010 seria o desempate.

Nos 16 anos que os tucanos e o partido da estrela vermelha levam no Palácio do Planalto consolidou-se definitivamente a democracia formal e incrementou-se algo da democracia avançada – conceito de democracia que vai além do direito ao voto, e que essencialmente tem a ver com os direitos sociais.

Durante os mandatos de Fernando Henrique Cardoso o grande fator de persuasão para manter a popularidade do governo foi o fato do Brasil ter uma inflação relativamente baixa, depois de muitos anos de hiper-inflação.

Entretanto, as duas vias pelas quais o governo controlava a inflação eram asfixiantes para a economia. O câmbio controlado, que reprimia as exportações, e um gradativo aumento da taxa básica de juros, que aumentava a dívida pública, que pulou de 30% do PIB para 60%, e impedia o investimento produtivo.

Com FHC o patrimônio nacional nos estratégicos campos das telecomunicações, da energia elétrica e da siderurgia foi praticamente desfeito, em leilões muitos suspeitos que trouxeram poucos capitais às arcas do Estado.

No final de seu mandato FHC estava tão impopular que era até escondido por seu candidato José Serra na eleição de 2002. O desemprego e o baixo crescimento foram o símbolo de seu último mandato. Seu cabo eleitoral nas eleições de 1994 e 1998, o Real, já não lhe servia como escudo, inclusive a própria inflação dava repontes após a maxidesvalorização do Real em 1999.

Nos anos de Luís Inácio Lula da Silva pela primeira vez em sua história o Brasil conjugou ao menos tempo crescimento econômico, baixa inflação e significativa inclusão social.

Lula não inventou a roda dos programas sociais. Mas com a unificação dos esparramados programas que existiam nos governos passados no Bolsa-Família houve robustez necessária para, com o incremento das verbas destinadas a ele, tirar mais de 30 milhões de pessoas da miséria.

E não apenas o Bolsa-Família foi o responsável pela maior inclusão social de todos os tempos do Brasil. O Luz para Todos, os programas de micro-créditos e o aumento real de 55% do salário mínimo foram igualmente essenciais para que mais gente possa estar vivendo como gente.

O de Garanhuns também revitalizou as empresas estatais, como a Petrobrás (não foi a toa que foi possível localizar tantas reservas de petróleo nas costas brasileiras), a Caixa Econômica Federal, o Banco do Brasil e o BNDES, responsáveis diretos, com uma política de crédito vigorosa, para que o tsunami que correu o mundo após a crise do sistema hipotecário americano fosse apenas a “marolinha” prevista por Lula no fim de 2008.

Os pontos débeis no governo Lula foram muitos. Mas, poucos inéditos do seu governo. Os velhos vícios da política brasileira, como o fisiologismo e a promiscuidade do público com o privado continuaram. Talvez sob a lógica do ator petista Paulo Betting, de que para governar “é preciso por a mão na merda”.

Em muitos aspectos o governo Lula pode ser visto como conservador. A carga tributária, por exemplo, continua a pesar mais sob a classe média e os pobres que sob os ricos, com impostos de consumo altos contra impostos de renda baixos. Tampouco Lula teve coragem de enfrentar os patrões omitindo-se na redução da jornada semanal de trabalho para 40 horas.

Com Lula muito ficou por ser feito nas fulcrais áreas da saúde e da educação, que ainda têm um peso enorme na retórica e insuficiente na prática.

No global os oito anos de governo de Lula e do PT estão sendo mais benéficos para o Brasil do que os oito de FHC e do PSDB.

Portanto, não teria dúvidas, se pudesse votar hoje, em escolher a candidata do ex-torneiro mecânico, e um dos membros mais importantes de seu governo, Dilma Roussef.

No hay comentarios: