Não será para a breve uma lei que admita em Portugal a interrupção
voluntária assistida da vida em caso de doença irreversível e sofrimento. A
eutanásia. Entretanto, o anteprojeto que será apresentado pelo BE relativo ao
tema já é um passo rumo a algo que deveria ser um direito de todo cidadão tendo
em conta sua situação de incurabilidade. Assim como a discussão que teve lugar recentemente na Assembleia da República sobre a petição a seu favor do movimento cívico
"Direito a Morrer com Dignidade".
Infelizmente, a classe política portuguesa, como é regra na Europa e no
mundo, ainda tem muito receio de legislar sobre a eutanásia. Mesmo políticos
que são no íntimo a favor e não colocam objeções éticas e morais à eutanásia,
fazem vários reparos ao avanço de sua despenalização.
Um dos principais argumentos é que a eutanásia deve ser mais debatida na
sociedade. O próprio anteprojeto do partido liderado por Catarina Martins visa
uma discussão "sem pressa".
Particularmente, julgo que a eutanásia é mais simples do que querem
fazer pensar. Ou se está a favor de que o enfermo tenha a liberdade de abdicar
da vida ou não (o que na prática significa compactuar com a prisão que a vida
pode significar para alguém que não quer prolongar seu sofrimento). Bastar-se-iam delimitar as condições em que se
a poderia levar a cabo e verificar a legislação de países onde esta é legal,
como Holanda e Bélgica.
A eutanásia parece-me um caso de liberdade individual ainda mais claro
do que outro em que por muitos anos se debateu na sociedade portuguesa até ser
retirado do Código Penal, a interrupção voluntária da gravidez até os 10 meses
de gravidez. Neste ainda se poderia alegar que a decisão da gestante em abortar
não diz respeito só a ela, pois envolveria um ser humano (para os que insistiam
em discordar ou duvidar da ciência quando determinava que ao menos até as 10
semanas o feto não é um) ou um projeto de ser humano. No caso da eutanásia, a
vida tirada é pela vontade do doente sem que isto prejudique ninguém.
Ser contrário a esta desejo de quem está a sofrer sem ser por razões
religiosa não me parece lógico. Mas, na verdade, penso que mesmo os que não as
alegam, no fundo sofrem duma inconsciente influência das religiões sobre o
princípio sagrado da vida. Ou fazem uma enorme confusão entre direito (à vida)
com dever (de viver).
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