Ao largo do Brasil o início deste ano foi marcado por aumentos no preço
das passagens de ônibus acima da inflação. Em grande parte das cidades a tarifa
já ultrapassa os R$ 4,00.
O elevado preço que o ônibus têm na maioria do Brasil é uma consequencia
das administrações públicas abrirem mão da gestão do transporte público, delegando-a
a empresas privadas, mediante concessão pública e subsídio para que o bilhete tenha um preço menor do que o de valor de mercado, com o qual não seria um serviço público.
Independentemente de se os valores praticados poderiam ser mais baixos
ou não, o fato é que as empresas objetivam o lucro. Algo básico de todo empreendedorismo
privado. E o lucro que desejam não poderia supostamente ser alcançado nem com o
subsídio do poder público sem os recentes grandes aumentos das passagens.
Já a gestão das administrações públicas, a depender da quantia, até
poderia operar com déficit. Por que então não são elas a executar o
imprescindível sistema público de transporte? Não é muito mais racional usar o
dinheiro do subsídio às empresas para que fossem elas próprias a fazê-lo? As
tarifas não poderiam, assim, ser mais baratas e haver mais linhas, impedindo
que o usuário seja transportado como gado?
O pior de tudo, é que nem sequer se discute minimamente a estatização do
transporte público. Nem mesmo a esquerda e movimentos sociais a reivindicam.
Muitos até preferem levantar uma bandeira irracional como a da tarifa zero.
Produzindo efeito zero na discussão em prol dum melhor transporte público.
Certamente o principal argumento contra a estatização seria a
ineficiência do Estado. Além da corrupção que poderia haver. Não sou insensível
quanto a isso. Entretanto, se fossemos temer isso deveríamos querer o Estado longe
de tudo, atribuindo todo tipo de serviço público, como educação, saúde e segurança,
aos privados. Mesmo tendo de subsidiá-los.
Ademais, a corrupção existe na relação entre administrações públicas e
concessionárias de transporte público. Um tema que pouco se fala na mídia, mas
que quem tem algum contato com os bastidores da política sempre escuta.
Principalmente envolvendo a licitação para a operação do transporte. Os casos
descobertos pela justiça muito provavelmente são poucos em relação ao que já
houve e há.
Infelizmente o transporte público operado por privados é uma marca de
quase toda América Latina. Diferentemente da Europa, onde é o Estado, por meio
de administrações municipais ou regionais, que o controla.
A estatização é o melhor meio para um transporte público barato e de
qualidade. Uma evidência que a covardia e/ou letargia da esquerda e o
neoliberalismo da direita obnubilam.
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