viernes, 10 de agosto de 2012

A (IN)UTILIDADE DAS FACULDADES DE JORNALISMO


Certamente, o Brasil é o país onde a instituição faculdade de jornalismo mais esteve em debate nos últimos anos. O motivo, a polêmica sobre a obrigatoriedade ou não do diploma de jornalismo para a atuação profissional no setor, já que foram várias as idas e vindas legais, ora tirando, ora recolocando a obrigatoriedade.

Muito se diz sobre os prós e os contras da obritoriedade, que poderá ganhar caráter definitivo, se a Câmara de Deputados tiver o mesmo comportamento do Senado, votando a favor duma emenda constitucional que a sacramenta.
 
Entretanto, quando o tema é faculdade de jornalismo, pouco se fala sobre a sua importância em si. As faculdades de jornalismo no Brasil servem para formar jornalistas? Seu programa, no referente às disciplinas do curso, é pertinente para quem deseja ingressar no mundo da informação e para a avaliação dos seus estudantes?
 
Independentemente da qualidade das faculdades de jornalismo, sou contra a obrigação. Entendo que a atividade jornalistica é demasiadamente aberta, e que pode albergar pessoas das mais variadas formações acadêmicas ou, até mesmo, autodidatas (principalmente com a massificação da internet). As matérias primas do jornalismo não estão pendentes, em absoluto, de nenhum curso superior: a boa escrita e o seguimento da atualidade.
 
Minha oposição à obrigatoriedade do diploma cresce ainda mais tendo em conta o quão fraco é o curso de jornalismo. E vou ainda mais longe. Creio que sequer deveria haver curso de jornalismo. Ao menos se este não sofrer uma ampla mudança.
 
As faculdades de jornalismo estão cheias de matérias pouco objetivas e desenfocadas do universo jornalístico. Matérias como Pensamento Filosófico, Teoria da Comunicação, Antropologia Cultura, Estudos Sócio-Culturais, Psicologia, Filosofia, Ciências da Linguagem, entre outras, são pouco úteis para a agenda do jornalismo. Algumas são tão rebuscadas que a exigência nas avaliações fica restrita a trabalhinhos e teatrinhos. Recordo-me que quando estava na faculdade de jornalismo, as encenações eram incentivadas pelos próprios professores para a abordagem dalgum tema. Algo verdadeiramente patético.
 
Já os assuntos que formam a base da atualidade, como política, economia e direito são quase que completamente negligenciados no currículos das faculdades de jornalismo. Como é possível que em quatro anos de curso, a grande maioria das faculdades não tenha, por exemplo, economia, direito e língua estrangeira como disciplinas? Quando fazia a faculdade, indagava, principalmente, o porquê de não haver economia. E me respondiam que deveria aprender por conta própria. Até poderia, mas para que serve uma faculdade de jornalismo, se não é capaz de ensinar ao menos aspectos básico de um dos temas mais presentes no jornalismo?

Uma verdadeira faculdade de jornalismo, se quisesse dar uma boa formação aos seus estudantes, deveria ser uma mistura das faculdades de economia, direito, política, história e letras, com português e ao menos uma língua estrangeira (se cobra tanto o inglês na profissão e nenhuma faculdade o tem!) para além de algumas disciplinas de natureza prática. Claro que todas as disciplinas também deveriam contar com exames objetivos, sem espaço para o facilitismo, como ocorre quando as avaliações são feitas por meio de trabalhos para contornar o conteúdo abstrato da maioria das disciplinas teóricas que há nas faculdade de jornalismo hoje.

De não ir por este caminho, as faculdades de jornalismo no Brasil só servem para jogar no mercado formandos que, em sua grande parte, se limitam a saber responder o “lead”, as famosas perguntas para a elaboração dum texto jornalístico: “quem?”, “quando?”, “por quê?”, “para quê?”, “o quê?” “como?” (erradamente ensinado como se tivesse que ser levado ao pé da letra).

Uma das piores consequencias de haver uma má faculdade de jornalismo é que todos os formandos, tendo ou não vocação para a informação (só uma minoria tem), são colocados no mesmo saco pelo mercado da informação, que tem pouquíssimos postos de trabalho. Como todos estão nivelados por baixo, a precarização do setor é ainda maior. 

Se não houvesse a faculdade, seria como no passado, quando não existia faculdade de jornalismo. Só seria jornalista quem tivesse vocação pela informação e o mercado laboral da área no âmbito da oferta de profissionais estaria depurado. Claro que isto não é a solução para os problemas e dramas que o jornalismo enfrenta hoje. Mas melhoraria a qualidade da informação, pois desviaria para longe do jornalismo pessoas que sequer leem jornal.

Em resumo, ou a faculdade de jornalismo se reformula ou seguirá prejudicando o próprio jornalismo.

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