Poucos jornalistas brasileiros,
ao menos dos que estão nas principais ligas do periodismo, trabalham tão em
prol da promiscuidade entre informação e propaganda como Milton Neves.
Mesmo quem não se interesse pelo
setor do jornalismo em que milita há décadas, o esportivo, deve já ter reparado
na quantidade de publicidade que há em seus programas, tanto na rádio, como na
TV. Concretamente em forma de merchandising, esta forma de publicidade não
tradicional em que um jornalista fala de uma determinada marca ou empresa
dentro do espaço do programa e fora do espaço de intervalo comercial.
Sem dúvida, Neves pode ser
considerado como o rei de merchandising no Brasil. Um programa de humor até fez
um personagem baseado nele chamado Merchan Neves.
Neves não tem nenhuma vergonha da
dupla atuação, no campo da publicidade e do jornalismo. Muito pelo contrário.
Neves é dono duma agência de publicidade. É por meio dela que capta os anúncios
para o programa cuja marca é de sua propriedade, o Terceiro Tempo.
Se já é reprovável qualquer
mínima publicidade que um jornalista faça, mesmo a que faça num anúncio
publicitário fora dos programas em que labora, o que faz Neves pode ser
catalogado no âmbito do ultraje. Infelizmente, Neves está longe de ser o único
que mistura publicidade e jornalismo. A maioria das rádios e TVs do Brasil têm
os chamados testemunhos. Ou seja, jornalistas que fazem o merchandising
durante as emissões. Esta triste prática não é exclusividade do Brasil. Em
toda América Latina ocorre a mesma coisa.
No Brasil, como no resto da
região, são muito poucos os jornalistas que criticam isto. Em Terras de Vera
Cruz, o único que predica contra a mistura de jornalismo e publicidade é o
jornalista Juca Kfouri. Não por acaso, Neves tem em Kfouri um grande inimigo.
Acostumado a destilar
promiscuidade a torto e a direito, Neves deve ter ficado muito surpreendido,
quando, nesta terça-feira, na sua participação no programa matinal da Band News
FM, apresentado pelo jornalista Ricardo Boechat, este repreendeu-o vivamente
após Neves falar sobre um projeto esportivo do empresário João Paulo Diniz.
Neves falava do projeto como se, de fato, estivesse fazendo um relato
informativo, ultrapassando em desfaçatez os seus habituais merchandising. Boechat
não deixou barato, interrompendo-o, e dizendo: “Milton, manda o Diniz botar um
anúncio”. Neves ainda tentou
desconversar, dizendo que não era anúncio, mas Boechat não aceitou suas
desculpas esfarrapadas.
Infelizmente, Boechat junto à
coapresentadora do programa, Tatiana Vasconcelos, decidiram rapidamente cortar
a discussão, que começava a pegar fogo (principalmente da parte de Boechat,
pois Neves ficara muito acuado para fazer frente a ele) para falar de outro
tema.
Ainda que tenha durando apenas
três quartos de minuto, a enquadrada de Boechat em Neves foi dos momentos mais
épicos do jornalismo brasileiro nos últimos tempos. Uma aula de ética que
deveria servir de lição a todos os jornalistas e aspirantes a sê-lo. Ademais, pela
primeira vez sua sem-vergonhice ficara em evidência em plena prática desta.
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