miércoles, 11 de abril de 2012

QUANDO O PRECONCEITO SAI DO ARMÁRIO


Está a causar certo furor na sociedade portuguesa o último artigo que o diretor do Sol, José António Saraiva, escreveu para o semanário. De inclinação claramente homofóbica, embora com alguns matizes para dar um toque de tolerância, o texto demonstra o grande reacionarismo do jornalista.

Embora Saraiva admita que haja homossexuais que nasçam homossexuais, não tem dúvida em afirmar que há muitos que se tornam homossexuais “por influência de amigos e por pressão do meio em que se movem”. Até “culpa” as figuras mediáticas pelo facto de estar havendo um suposto crescimento no número de homossexuais: “O assumir da homossexualidade por parte de figuras públicas acaba forçosamente por ter um efeito multiplicador, pois funciona como propaganda”.

Saraiva diz que o homossexualismo é hoje uma forma de sublinhar o espírito contestatário por parte de quem assume ser homossexual: “Para alguns jovens, a homossexualidade surge como uma forma de mostrar a sua ‘diferença’, de manifestar a sua recusa de uma sociedade convencional”

Para Saraiva um jovem declarar-se homossexual hoje dia é semelhante a um jovem que se declarava de esquerda no passado: “Se antes os jovens desafiavam os pais tornando-se ‘de esquerda’, hoje desafiam-nos recusando a ‘família burguesa’ e mostrando-lhes que há outras formas de relacionamento e até de constituir família”.

Por fim, Saraiva julga que o homossexualismo é uma forma de “niilismo”, em que há “uma ausência de utilidade e uma recusa do futuro”. Tudo pelo ‘facto’ de nele estar embutida a “rejeição da relação homem-mulher”, que, consequentemente, segundo Saraiva, leva à rejeição da “reprodução da espécie”.

O homofobismo de Saraiva, na verdade, é um manifesto da mais nefasta forma do politicamente incorreto, dos que não têm vergonha de assumir um ataque (no caso de Saraiva ‘apenas’ léxico) a certas coletividades.

A dificuldade de conviver com o diferente é um desafio a todas as sociedades que querem ser, de facto, democráticas. Não é tão difícil, ao menos no caso de aceitar-se os homossexuais. Bastar imaginar que a existência de práticas diferentes da maioritária, como as relações homossexuais, em absoluto, são impostas a quem não queira exercê-las. Se há mesmo um aumento da cifra de homossexuais não é porque as pessoas são obrigadas a serem, como é óbvio, ou porque virou uma ‘moda’, e sim porque, simplesmente, o preconceito tem vindo a diminuir, principalmente nas grandes cidades, e ser homossexual não é visto como algo tão aberrante como outrora.

Felizmente, posições retrógadas como a de Saraiva são cada vez mais pontuais em Portugal, que caminha - a despeito dum certo reacionarismo no plano dos direitos civis instalado em determinados setores – rumo a uma sociedade tolerante e respeitadora dos direitos dos homossexuais.

O que fica, pelas palavras de Saraiva, é uma grande mácula para o periódico que ele dirige. Já considerada uma publicação dotada de certo histerismo pelo teor dalgumas de suas reportagens, o Sol apronfunda mais a sua má imagem no plano ético.

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