sábado, 15 de enero de 2011

COMEÇA O QUE DEVERIA TER FIM

Neste fim-de-semana está tendo lugar o início dos principais Campeonatos Estaduais do Brasil, as mais antigas competições do futebol do país. Se imprescindíveis nas primeiras décadas do esporte-rei em Terras de Vera Cruz, em razão da impossibilidade da realização de um campeonato nacional, desde a introdução deste, há cerca de quatro décadas, os estaduais tornaram-se obsoletos.

O Brasil é o país onde mais se joga no planeta. A razão disto é ter em seu calendário dois campeonatos generalistas – ou seja, campeonatos com divisões e sem um número fixo de equipes por região ou unidade política do país - o Nacional e os Estaduais.

Se é verdade que desde o alargamento do Nacional, quando da implantação dos pontos corridos, em 2003, os Estaduais perderam muito espaço na temporada, eles ainda ocupam demasiado espaço e sua simples existência faz com que haja uma verdadeira anomalia no Brasil, pois no mundo nenhum outro país conta com campeonatos do gênero dos Estaduais.

Os argumentos dos que defendem os Estaduais basicamente são dois: que o seu fim “decretaria” a falência das equipes pequenas e que mataria a rivalidade dos clássicos entre os grandes de cada Estado.

Em relação ao primeiro argumento, as equipes pequenas, em sua grande parte, já estão há muito, se não na falência, em um completo definhamento financeiro e esportivo, que muitas delas colmatam alugando seus times para empresas que montam equipes descartáveis, com serventia exclusiva para o campeonato estadual.

Ao contrário do que os “amantes” dos Estaduais pensam, o seu epílogo poderia sim ser a salvação das agremiações de menor porte, que hoje passam três quartos do ano sem atividade, só jogando os três meses do Estadual.

A solução seria muito simples, a instalação de mais divisões no Campeonato Brasileiro, que seria regionalizado a partir da Série C (com os melhores de cada Estado disputando o acesso). Tal como na grande maioria dos países. A regionalização seria cada vez maior quanto mais baixa fosse a divisão. O ideal, inclusive, seria a criação de distritos em cada Estado, o que poderia, talvez, fomentar a criação de mais entidades clubísticas ou a ativação de algumas que só disputam torneios de várzea. O número de clubes no Brasil é ridículo, de acordo com o seu tamanho. Países bem menores possuem muito mais clubes que o Brasil. A cidade de São Paulo, um monstro demográfico, com mais de dez milhões de habitantes, maior que a população de Portugal, por exemplo, tem somente seis equipes.

Sobre o segundo argumento, é lógico que a rivalidade entre os grandes de um mesmo Estado estaria plenamente garantida com o Campeonato Brasileiro e até seria mais aguçada, pois como jogariam menos vezes entre si, sem o campeonato estadual, cada confronto seria muito mais aguardado e menos desgastado midiaticamente. Um Boca-River na Argentina ou um Internazionale-Milan na Itália dificilmente podem repetir-se mais que duas vezes ao ano em torneios oficiais, o que torna cada clássico um evento ímpar.

Não nego que os campeonatos estaduais continuem, uma vez ainda existam, tendo importância, a mesma que tinham nos seus anos “dourados” – por paradoxo que possa parecer para quem augura o seu fim. Seria ilógico para efeito comparativo, por exemplo, dizer que valeu mais o Campeonato Paulista conquistado pelo Corinthians no ano do quarto centenário de São Paulo, em 1954 que o que ganhou o Santos no ano passado.

O fato de terem a mesma importância do passado os faz ainda mais pesados para os clubes grandes, envolvidos em competições mais fulcrais economicamente e esportivamente, já que estes não podem negligenciá-los. Além de praticamente não terem uma pré-temporada.

O termino dos Campeonatos Estaduais seria, portanto, uma das decisões mais saudáveis da história do futebol brasileiro.

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